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Podcast Homo SemDeus

HomoSemDeus é o podcast oficial da Associação Ateísta Portuguesa, onde exploramos as fronteiras do livre pensamento. De entrevistas com ateus a comentários sobre notícias relevantes, mergulhamos no ateísmo como mundividência válida e questionamos crenças e superstições. Com uma abordagem crítica da religião, promovemos os valores da liberdade, do humanismo e da razão.

Descubra a história de alguns dos nossos associados, notícias sobre eventos e iniciativas da AAP para sócios e para o público e análises de notícias e acontecimentos atuais que impactam os ateus de Portugal. Participe da conversa aqui e envie-nos a sua mensagem de voz ou texto.

Quinzenal, às quartas-feiras.

Apresentado por Eva Monteiro, podcaster e membro da direção da AAP.

No episódio inaugural do podcast Homo SemDeus, introduzimos o objetivo da série: questionar crenças, partilhar histórias de ateus e promover o pensamento crítico, especialmente numa sociedade cada vez mais dividida por questões religiosas.

O convidado especial foi João Monteiro, presidente da AAP, que partilhou a sua trajetória pessoal e as metas da associação. O episódio refletiu sobre a missão da AAP de apoiar os livre-pensadores e lutar pelos direitos dos ateus em Portugal, fornecendo-lhes uma base para uma comunidade. A conversa começou com João Monteiro a relatar a sua jornada gradual para o ateísmo. Educado num contexto cristão-católico, passou por momentos decisivos durante a catequese, onde se sentiu desconfortável ao professar uma crença na qual não acreditava.

Essa experiência desencadeou um afastamento progressivo da religião, consolidado pelo estudo da história das religiões, em que compreendeu que muitas crenças resultam de decisões humanas ao longo do tempo. Ao contrário de muitos, a sua descrença não se deveu ao avanço científico, mas ao entendimento do contexto histórico das religiões.

No plano mais amplo, o presidente da AAP descreveu como tem sido a sua experiência enquanto ateu em Portugal, mencionando a aceitação positiva, sobretudo em ambientes urbanos como a cidade em que vive: Lisboa. Contudo, reconhece que em regiões mais conservadoras, como o interior do país, a discriminação e a perseguição a ateus podem ser mais evidentes. A AAP tem um papel crucial em fornecer apoio legal e institucional para aqueles que se sentem marginalizados pela sua ausência de crença.

A entrevista também explora o papel de João Monteiro como presidente da AAP. Assumiu a direção num momento de transição, com a saída do fundador, Carlos Esperança. Sob a sua liderança, a Associação tem focado em manter uma estrutura funcional, aumentar a presença nas redes sociais e diversificar os projetos, como a criação de uma biblioteca ateísta.

João Monteiro sublinhou a importância de envolver mais associados nas atividades e projetos futuros da AAP. O episódio concluiu com reflexões sobre o futuro do ateísmo em Portugal. Acredita que o número de não religiosos está a crescer, especialmente entre os jovens, e prevê que o ateísmo se tornará uma posição cada vez mais relevante na sociedade portuguesa. No entanto, enfatiza que esse crescimento deve ser tratado com responsabilidade, promovendo sempre o diálogo construtivo e o respeito pelas crenças alheias.

Quando a Inclusão Esbarra na Exclusão

No mais recente episódio do Podcast Homo SemDeus, decidimos partilhar a nossa experiência numa aventura inesperada: a visita à Aldeia das Religiões. Inicialmente, fomos convidados a participar oficialmente neste evento, que visa promover o diálogo entre diferentes crenças. Contudo, pouco tempo depois, o convite foi retirado, aparentemente por pressão de alguns grupos religiosos que não aceitavam a presença de ateus num espaço que deveria, teoricamente, promover a inclusão.

Mas, como bons ateus que somos, não nos deixamos abalar. Decidimos ir mesmo assim, desta vez como simples visitantes. Afinal, se o objetivo é o diálogo, por que não? O que encontrámos foi tanto fascinante como desconcertante. Para começar, esperávamos um evento cheio de pessoas e organizações prontas a partilhar as suas visões. Em vez disso, deparámo-nos com várias tendas vazias e uma atmosfera bastante tranquila, pelo menos durante a manhã de sábado.

A nossa primeira paragem foi na tenda da Igreja Adventista do Sétimo Dia, onde fomos recebidos pela Ana, uma jovem simpática e devota. A hospitalidade foi inegável, mas rapidamente nos deparamos com a típica compartimentalização de ideias que encontramos em muitos grupos religiosos. Embora o sábado seja o dia sagrado de descanso para esta confissão, aparentemente trabalhar num evento religioso não quebra essa regra. A nossa conversa com a Ana foi uma das mais longas e intrigantes do dia, tocando em temas como criacionismo, evolucionismo e até o dilúvio bíblico. Num momento surreal, a crença de que o dilúvio ocorreu numa altura em que os continentes ainda formavam a Pangeia fez-nos questionar o nível de conhecimento científico que alguns crentes possuem.

De facto, um dos maiores desafios durante estas conversas foi perceber como conceitos opostos, como criacionismo e ciência, são fundidos sem grande rigor. A tentativa de compatibilizar a evolução com o design divino é algo comum, mas que rapidamente se desmorona ao ser submetido ao pensamento crítico.

Depois de explorar outras tendas – onde conversámos com representantes muçulmanos, mórmons e da comunidade Bahá’í – fomos finalmente entrevistar o Padre João Torres, um dos organizadores da Aldeia das Religiões. Apesar da nossa exclusão do evento enquanto entidade, o padre recebeu-nos com cordialidade e partilhou a sua visão para o futuro do diálogo inter-religioso. Para ele, o sucesso deste tipo de encontros reside na capacidade de unir pessoas diferentes, mesmo que essas diferenças sejam irreconciliáveis em certos aspetos.

No entanto, uma reflexão crítica surge inevitavelmente: até que ponto este diálogo é realmente inclusivo? Embora muitas religiões preguem a tolerância e o respeito pelas diferenças, será que estão verdadeiramente dispostas a aceitar uma visão do mundo que não inclui a crença num qualquer deus? A nossa experiência mostrou-nos que, apesar de se falar muito de inclusão, há ainda barreiras profundas quando se trata de dar espaço a vozes que desafiam o status quo religioso.

Convidamos os nossos ouvintes a refletirem connosco: o diálogo ecuménico pode realmente incluir ateus? E mais, é possível encontrar terreno comum quando os fundamentos de crença e descrença são tão díspares? No final, fica a questão: estamos mesmo a caminhar para uma sociedade mais inclusiva, ou este tipo de eventos não passa de uma celebração do status quo religioso?

Exoneração de Responsabilidade

A AAP fornece este podcast como um serviço público, mas este não constitui uma declaração da política ou posicionalmento da AAP. A referência a qualquer produto ou entidade específica não constitui uma aprovação ou recomendação da AAP, nem tampouco uma oposição. Os pontos de vista expressos pela anfitriã e pelos convidados são da sua exclusiva responsabilidade e a sua presença no programa não implica a sua aprovação ou a de qualquer entidade que representem. Os pontos de vista e opiniões expressos pelos associados da AAP são da responsabilidade dos mesmos e não reflectem necessariamente a opinião da AAP ou de qualquer dos seus outros associados. Se tiver alguma dúvida sobre esta declaração de exoneração de responsabilidade, contacte-nos através do formulário disponível aqui.